Primeiro a Luz e depois câmera, ação!
A diferença básica do desenho técnico para o artístico é que o primeiro não faz uso de luz e sombra pois não é relevante para a natureza objetiva de suas representações sendo assim o oposto da essência do desenho artístico que tem como base essas duas condições para que sejam produzidas desenhos e/ou pinturas, sejam elas tradicionais, alternativas ou digitais.
O uso desses dois fundamentos proporcionam melhor concepção das formas, volumes e profundidade dos temas que queremos desenvolver com maior realismo sem necessariamente ser realista.
No meu dia a dia, produzindo ilustrações comerciais, me deparo com diversas solicitações de clientes das mais diferentes áreas que ora querem algo realista e ora mais gráfico e/ou estilizado mas que, de modo geral, a representação deve ser feita de forma clara e objetiva para que o observador entenda a essência da informação visual que foi-lhe apresentada.
A representação artística através de pinturas, ilustrações e até fotográfica tem no uso da luz e sombra níveis de realismo e tridimensionalidade proporcionados que tornam os temas representados mais palpáveis e acontece na grande maioria das vezes independente da intensidade em que esses fundamentos foram utilizados.
Uma boa forma de aumentar minha sensibilidade visual são os hábitos de olhar à minha volta para perceber o quanto é revelado do ambiente como por exemplo ao perceber e analisar as sombras projetadas, de pequenos objetos à grandes edifícios, que indicam as posições respectivas da fonte de luz e sua intensidade em diferentes condições como dias chuvosos – sobras difusas- ou das ensolarados sem nuvens no céu – sombras contrastadas e recortadas – ou em ambientes noturnos em que a iluminação natural deixa as partes inferiores das edificações mais claras próximos ao solo e escuras a medida que seus andares ganham altura. Esse tipo de observação aumenta minha percepção da luz e das sombras.
Perceba que até nas configurações do modo de captura de seu celular existem opções de iluminação da cena a ser fotografada apresentadas em ícones para escolher entre luz do sol, luz incandescente, luz fluorescente, tempo nublado ou flash. O modo como a luz se propaga no ambiente interfere em como a cena é captada, sejam por lentes naturais ou artificiais – nossas pupilas reagem alterando seu tamanho de acordo com a luz ambiente para melhor captar elementos do ambiente.
O quanto mais procuro entender as características dos temas observados – seja a atenção dada para sua composição, perspectiva, espaço negativo ou a própria luz e sombra – mais próximo da representação ideal será a produção da arte que farei seja ela para exercício de fundamentos, para enriquecer portfolio ou como base para as produções comerciais que sempre tem prazo limitado e demandam que eu domine o máximo que puder para poder executá-las.
Melhor dizendo, imagine seu cliente com um projeto de livro em mãos para ser ilustrado e entra em contato com você solicitando e sugerindo uma capa para o mesmo em que será necessário haver uma imagem dividida em dois ambientes distintos lado a lado onde no da esquerda será a representação de uma tarde em ambiente gélido, com neve, tempo nublado caracterizando um inverno ártico enquanto na da direita será caracterizado uma região praiana totalmente ensolarada pelo sol do meio dia em pleno verão carioca. Para unir os dois cenários deverá haver um esquimó saltando do ambiente ártico para o carioca mas que vai tirando a parte superior de sua vestimenta enquanto dá esse salto demonstrando alegria e excitação para o caloroso ambiente vizinho.
A informação acima é um exemplo simples de como recebo as solicitações de trabalho feita pelos clientes e provavelmente eles já tem uma concepção em mente do que querem e eu irei fazer a minha porém apresentando vários esboços e layouts para que sejam discutidos , analisados, comentados, criticados, descartados e por fim aprovado aquele que melhor sugere a intensidade da informação desejada.
Mas para que você faça, de forma realista, tanto o ambiente ártico, que pode ser que não o conheça pessoalmente, quanto para o carioca será necessário pesquisa feita a partir de fotografias ou em audiovisuais que apresentem representações desses ambientes tanto geográfico quanto das populações que o habitam e caso seja solicitado maior detalhamento dos cenários maior deverá ser a pesquisa para que o maior número de elementos visuais preencham corretamente cada cenário.
Mas é claro que se for solicitado algo mais subjetivo a arte poderá ser feita apenas baseando-se na sua memória e experiência visual mas entenda que nos dois casos a ilusão das imagens será a de transportar o observador corretamente para a essência dos ambientes apesentados e dessa fora será interessante manter algumas condições presentes em suas artes como iluminação e sombras difusas e pouco contraste para o ambiente ártico e cores saturadas, luz intensa e sombras recortadas, luz refletida de objetos para outros elementos de cena para o ambiente carioca.
No fim, sendo a arte produzida objetiva ou não, ela terá dramaticidade baseada no uso melhor representação do tipo de iluminação utilizada em cada ambiente.
Em oficinas de arte em que já ministrei cursos já ouvi alunos nas aulas dizendo ter dificuldade de pintar seus desenhos e que davam preferência a mantê-los como estavam, contornados e com ou sem texturas do grafite que até davam certo nível de volume às formas.
Na verdade, acredito que o problema seria a dificuldade de representar áreas iluminadas e de sombra dos elementos em cena através de variações de tonalidade das respectivas cores e de usar “massa de cores” ao invés de linhas pois a cor destaca uma banana amarela de uma maçâ vermelha mas por outro lado basta desenhar essas formas com linhas sem preenchimento que conseguiremos a mesma separação porém é a representação da mudança dos tons ao longo da superfície, acredito, que torna-se o grande desafio. Dá mais trabalho!
A grande maioria dos personagens dos desenhos animados são feitos com cores chapadas, sem nuances ou variações tonais para que a informação torne-se de fácil assimilação e para que a produção em larga escala seja dinâmica e prática. Dá menos trabalho.
Porém, para que a grande quantidade deles pudessem aparecer no filme “Uma Cilada Para Rogger Rabbit” os animadores se concentraram em apresenta-los como que reagindo aos efeitos de luz e sombra para criar a ilusão em que tanto humanos e os tooms” – gíria americana para desenho animado – estivessem atuando ao mesmo tempo e no mesmo ambiente de forma crível.
Não tenho uma regra diária de práticas dos fundamentos artísticos para serem desenvolvidos à exaustão para me manterem afiado nos fundamentos mas procuro praticar previamente aqueles que serão mais utilizados nos projetos que entrarão em produção.
Dessa forma, existem algumas atividades que gosto de fazer como exercícios para melhorar minha performance principalmente e que ajudam a perceber o que tenho de melhorar ou que deverei ater-me com maior atenção durante a execução das ilustrações comerciais.
E parodiando o historiador e youtube Eduardo Buena, do canal Buenas Ideias:
“É agora que essa postagem vai começar!”
Veja só, sou fã de vários vários produtos audiovisuais e dentre eles destaco filmes e séries que de modo geral, indo dos melhores aos piores, todos possuem bons e maus momentos e é justamente nas cenas em que os diretores de fotografia fizeram escolhas que destacaram e salvaram visualmente as cenas que eu fico admirado, mesmo que depois eu constate que o roteiro e a execução jogaram a obra na lato do lixo.
Muito bem, é o uso da luz nesses trabalhos que minha atenção é capturada por perceber seu uso em criar atmosferas onde personagens e cenários ganham destaque ou presença visual.
Gosto de perceber se foi usado muito ou pouco contraste que, por exemplo, são escolhas que fazem os elementos iluminados na cena serem destacados durante a narrativa independente se estão no primeiro ou no segundo plano da filmagem e essa escolha pode ser previamente definida e planejada a partir da intenção e abordagem da narrativa ou pela complexidade ou estilo da obra que será produzida.
Também aprecio ver silhuetas recortadas de personagens ou elementos que nas cenas trazem um senso de contraste que muitas vezes se aproximam da linguagem dos quadrinhos ou dos filmes Noir que exploram muito esse recurso.
As vezes, sem um tema específico, sinto dificuldade em criar artes a partir do zero para exercitar fundamentos de arte e como não é a todo momento que me sinto inspirado a ficar pesquisando fotos de referência aleatórias eu recorro às cenas de filmes que possuem muita coisa boa para exercitar a interpretação de ambientes desérticos, com neve, espaciais, medievais, pré-históricos ou selvagens. Essa riqueza visual está toda lá, basta dar play e deixar a inspiração fluir.
Todos esses cenários apresentam luz representada em várias condições de iluminação com intensidades que de tão incríveis me fazem pensar que não teria ideia de como representa-las sem uma referência em mãos.
A intenção é a de sempre rever filmes ora procurando aquelas cenas que gostei e ora apenas apertando o play para deixar-me ser surpreendido por aquele momento em que a luz chama a atenção e me inspire a começar a desenhá-la. Confesso porém que na grande maioria das vezes pratico essa última mas parando a cena em um momentos aleatórios para sair do lugar comum ou da chamada “zona de conforto” e desenho a partir do que estiver na tela naquele momento.
A ilustração comercial demanda sensibilidade visual para que se obtenha os melhores resultados e é na observação dos filmes que tento absorver e entender como aquela cena que estou desenhando foi concebida, como se fosse uma desconstrução dela enquanto vou interpretando com minha arte, parecendo até uma investigação sobre a luz que foi utilizada e da dramaticidade que ela produziu mas usando para isso qualquer material artístico, de lápis número 2 à caneta da #Cintica.
De modo geral vejo na luz utilizada nos filmes a apresentação de realidades que podem ser envolventes de forma intensa e impactantes como também simples e básicas, porém ao produzir ilustrações comerciais nem sempre apresento imagens tão impactantes na iluminação mas graças às práticas de exercícios de interpretação, tenho maior clareza e segurança em apresentar corretamente meu propósito visual para os projetos comerciais os quais participo com minha arte.
Ou seja, muitas vezes meus clientes solicitam em seus projetos propostas simples na objetividade mas que necessitam de artes que representem informações complexas e a segurança da proficiência obtida nos exercícios mencionados me proporcionam facilidade para desenvolver e executar essas artes.
Os videoclipes são um segmento audiovisual que sempre gostei e o clipe da música Every Breath You Take” do The Police é um exemplo interessante do uso intenso de contraste que define intensidade dos elementos de cena e explora de forma bela o uso do espaço negativo que ajuda na composição onde os elementos de cena são destacados em harmonia ao longo da edição do vídeo.
Meus hábitos de ilustrador levam em consideração estar preparado antes do pedido do cliente chegar e para isso mantenho a mente ocupada exercitando referências que julgo relevantes e as vezes até impactantes que vão aumentando minha pratica em identificar a intensidade da luz e do contraste resultante para melhor produzir e executar qualquer projeto que chegue em minhas mãos.
Deixe nos comentários como você já usou a luz para melhorar o resultado de suas fotografias ou suas artes.
Obrigado e Sucesso para você!!