Marcos Aurelio

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Aquarela de Jor-El

Aquarela de Jor-El

Aos 11 anos de idade eu vi a abertura de uma novela que era explicitamente artística e fez meus olhos saltarem.

Era a novela “Gina” que contava a história de uma garota, a tal Gina, interpretada pela maravilhosa Cristiane Torloni, que possuía grande talento artístico.

A abertura era uma sequência de procedimentos artísticos que até então eu não conhecia e que apresentavam a performance de alguém preparando e fazendo pinturas.

Comparando de forma grosseira parecia até partes editadas de tutoriais de pintura que vemos no YouTube.

Aqueles segundos da abertura eram mágicos pois me deixavam muito interessado em tentar decifrar como cada esboço, pincelada ou mistura de tintas poderiam ser feitos por mim com os poucos recursos que tinha e que no máximo eram as populares tintas gouache que usava na escola.

Ah, e naqueles tempos um material artístico extremamente simpes mas igualmente icônico que chegou em minhas mãos foi a popular aquarela escolar Hering .

Aquilo era o máximo pois as tintas em espaços definidos vinham fixadas em uma paleta com formato igual à dos artistas e com um pincel de brinde.

Para que a mágica acontecesse bastava apenas um ingrediente básico:

Água!

Ela deixava a tinta miscível, servia para dissolver a pincelada aplicada e ainda podia limpar os pincéis.

Que maravilha, eu me sentia um artista pleno usando aquele material.

Para quem começa uma empreitada artística é muito importante ter um mestre, um mentor ou alguém que possa ser o guia nas etapas do aprendizado para que esse seja enriquecedor nos fundamentos das técnicas e sem desperdício de tempo ou material.

Como exemplo simples, demorei muito tempo para entender que não se deve deixar o pincel descansando dentro da canequinha com água pressionando os pelos e os deixando total e irremediavelmente deformados.

Quanto desperdício de pincéis ao longo dos anos.

A aquarela sempre foi familiar para mim mas tive um despertar apaixonado por essa técnica quando no fim dos anos 80 comecei a ter acesso a um tipo diferente de quadrinhos, as tais Graphic Novels e duas delas em especial explodiram minha cabeça de forma fulminante.

Uma foi a coleção “Wolverine & Destrutor”, simplesmente sensacional e que, pensando nisso agora, com a tecnologia atual poderia ser um espetacular filme da Marvel sem sombras de dúvida.

Essa coleção em especial apresentou ao mesmo tempo a arte de dois artistas com técnicas distintas e que tornava a leitura muito mais interessante.

No caso, as artes do Destrutor foram feitas pelo artista Jon J. Muth e as do Wolverine pelo também genial Kent Willians.

A outra foi “Drácula, Uma Sinfonia de Pesadelos ao Luar”, escrita e ilustrada pelo genial Jon J. Bluth.
Sério, foi a primeira vez que me borrei de medo lendo quadrinhos na adolescência.

Já tinha me assustado muito na pré adolescência lendo Os Contos da Kripta, mas esse Drácula…

Nessa história o artista esbanja técnica de aquarela.

Atualmente, desenvolvo muito do meu trabalho usando ferramentas digitais mas o fato é que muitas delas procuram emular técnicas tradicionais como tinta a óleo, giz, carvão. Acrílica, nanquim e é claro a aquarela.

Mas ponto o grande mérito das técnicas tradicionais é que não existe ctrl-Z para desfazer algo que não ficou bom e se você erra, só existem dois caminhos e que são a correção ou amassar tudo e começa de novo.

A técnica de aquarela por fazer , de certa forma, parte da iniciação artística de muitas pessoas pode parecer a princípio naturalmente simples mas quanto mais você a utiliza mais percebe sua complexidade.

Minha aquarela em pastilhas Acrilex

Ela exige atenção tanto na aplicação da tinta quanto na reação do papel que influenciam no aspecto final da textura da arte e na suavidade na variação dos tons aplicados.

A escolha do papel é muitas vezes fundamental para o resultado da arte produzida pois ,por exemplo, um papel Canson com gramatura de 140gr/m2 não permite fazer transições suaves iguais a de um papel 300grm/m2 justamente por não reter uma quantidade maior de água que justamente possibilita esse efeito.

O papel mais fino enruga-se com maior facilidade ao trabalhar com aquarela e dependendo da proposta da sua arte as texturas ficarão manchadas com camadas sem transições dos tons… mas para algumas propostas artísticas ficam até muito bonitas.

Em outras que exigem transições mais suaves, ajuda muito escolher usar um papel mais grosso, pesado, de gramatura maior,  pois poderá ficar encharcado e aguentar várias pinceladas sem também se desmanchar.

Assim, é improvável que você consiga produzir uma aquarela estável e sem deformação – enrugamento –  usando folhas de sulfite.

Fiz um teste recente usando o sulfite para produzir uma aquarela mas mesmo com o papel preparado para a técnica de aquarela a tarefa mostrou-se difícil de ser concluída e por fim resolvi trabalhar usando lápis de cores para não perder a arte inicial.

E essa é outra coisa que muito me atrai de modo geral durante a produção de minhas artes que é a combinação de técnicas diferentes para produzí-las.

Mais uma vez a criatividade mostra-se como a combinação de possibilidades diferentes para obter determinado resultado.

Para o citado papel canson 140grm/m2, que para mim é o limite para produzir uma arte aceitável com a técnica de aquarela,  é importante também prepará-lo antes ou depois da aquarela pois ele certamente ficará deformado e apresentando oscilações e enrugamentos que após seco além de um aspecto desagradável praticamente dificultará que a arte seja enquadrada com proteção de vidro.

O papel precisa estar plano para receber o acabamento.

Vale informar que recomendá-se haver uma distância entre o vidro e o papel para que a pintura não seja tocada por nenhuma superfície.

Esse problema não ocorre com os papeis grossos, que podem absorver a água sem apresentar deformação extrema.

Alguns apresentam leve ondulação mas nada que comprometa o aspecto físico da obra.

Existem temas variados para explorar o uso dessa técnica mas sou adepto de escolher os que fogem do padrão ou de certa forma são mais radicais.

Também como na maioria das vezes uso o que estiver a mao para produzir arte a partir do tema escolhido no momento.

E a aquarela foi escolhida após assistir ao filme O Homem de Aço.

Gosto muito desse filme e uma cena muito simbólica com o ator que gosto de ver atuando, Russell Crowe, que interpreta Jor-El, pai de Kal-El, se despede de seu filho me inspirou de imediato a pegar meu caderno de desenho e começar a rabiscar e definir o desenho base para a aquarela que faria em seguida.

Video para o Instagram da produção do desenho antes da aquarela.

Esse caderno é composto de folhas de papel canson Renaud branco 180gr/m2.

Digamos que é um papel também no limite para a aquarela pois ainda se deforma e enruga quando molhado mas nada que estrague a proposta.

As folhas que compõem esse caderno feito a mão tem um formato A5 e o desenho não ocuparia todo o papel e a pintura não seria feita com excesso de água nas pinceladas.

A produção da arte foi feita em partes sobre pequenas áreas.

As camadas iniciais definiram as áreas claras e as sombras foram adicionadas em seguida com nuances de intensidade de preto mas, para as sombras contrastadas, feitas totalmente concentradas.

Para detalhes sempre uso o pincel fino redondo, pelo de marta,  mas para cobrir grandes áreas com pinceladas generosas de água ou para fazer a aplicação de cor no fundo eu usei um pince chato largo.

Um velho e usado pincel também de pelo de marta.

Como estava sem minha borracha de limpa tipos e não queria ferir o papel, aumentando sua porosidade, ao usar a borrecha branca comum eu apenas pintei sobre os traços a lápis que ainda aparecem através da transparência da tinta.

Aquarela final do Jor-El

Para trabalhos que exigem áreas maiores eu recomendo que prepare a folha para receber uma quantidade maior de água e com no mínimo 180gr/m2 ou o uso de papeis para aquarela   com gramatura a partir de 300gr.

Os materiais artísticos são caros mas em termos de custo benefício os resultados são sempre visíveis na qualidade do aspecto visual para a arte produzida .

É claro que o maior o conhecimento e domínio da técnica irão determinar essa qualidade por isso também acredito que pode-se tirar o máximo proveito com materiais inferiores e que no meu caso faço isso com á experimentação e uso de técnicas mistas pra alcançar determinado resultado.

Qualidade profissional? O que é isso?

Se é referente a brilho e contraste tudo bem, quanto melhor for o material provavelmente eles também o serão.

Mas em artes comerciais para impressos ou publicações faço o uso de recursos que potencializam esses dois aspectos de uma imagem.

Posso usar a mencionada técnica mista, ou o ajuste digital de cores, brilho e contraste ou simplesmente aplicando verniz sobre, no caso, a aquarela para ter suas características originais alteradas.

Aquarela da esquerda com aplicação de verniz e a da direita em sua versão original

A aquarela é uma técnica realmente fascinante e as artes produzidas atualmente abrangem uma infinidade de temas.

Foi inclusive parte da abertura do segundo filme do Homem Aranha dirigido por Raimi com uma sequência de artes feitas por outro genial artista, Alex Ross.

Gosto de postar material sobre técnicas que utilizo mas com certeza a aquarela sempre estará entre as que mais procuro manter a prática para melhor entendêla e com sorte dominá-la.

Estudo e prática nunca termina quando o assunto é arte.

Ah, e abaixo segue o link para a abertura da novela “Gina” que ainda traz saudosismo artístico para meus queridos anos 70 e 80:

Obrigado por chegar até aqui na leitura e Sucesso para você!!

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