Jesus matricial
Então é Natal….hehe, brincadeira.
Mas falando sério, nessa época, na infância, as viagens de final de ano eram as melhores principalmente pela oportunidade de rever os parentes do interior de São Paulo.
E foi em uma dessas visitas que vi pela primeira vez, na parede do quarto de minha avó, um pequeno painel com uma imagem de Jesus em preto e branco formada apenas por letras impressas que formavam a variação de tons do retrato.
Essa imagem, abaixo, que consegui encontrar na rede para poder exemplificar é exatamente o mesmo retrato porém, nesse exemplo a arte impressa é composta por quadradinhos com variações de tons ao invés das letras.
A composição final é basicamente a mesma e percebe-se que na época desta arte também fora utilizada uma impressora matricial.
Aquele mosaico de letras sempre me intrigou pois não entendia como seria possível formar imagens daquela forma.
Acreditava, na época, que algo do tipo só seria possível de ser feita somente pelo tal computador que diziam ser bem mais esperto do que nós.
Quando comecei em 1990 a aprender sobre o que viria a ser popularmente conhecido como computação gráfica – para no ano seguinte começar a trabalhar oficialmente com essa técnica – o tal mistério já não era mais assim tão intrigante pois já possuía o conhecimento de que técnicas tradicionais de acabamento permitiriam fazer efeitos visuais parecidos.
Um padrão artístico que pode ter inspirado o programador responsável por aquela arte é a técnica de pontilhismo e os respectivos pontos podem por sua vez serem substituídos por qualquer outro tipo de padrão.
Letras por exemplo.
Essa ideia do uso de técnicas alternativas sempre me trouxe maiores chances criativas para a produção de artes e surgiu durante os momentos de autodidatismo e depois aperfeiçoado em cursos, estudos ou em trabalhos junto à outros profissionais da área.
Com os fundamentos básicos das técnicas aprendidas bastava simplesmente partir para a experimentação.
Nanquim com hidro cor, guache com tinta acrílica, colagem com pintura, lápis de cor com esferográfica, ecoline com giz pastel…nunca houve limites e as possibilidades só aumentavam.
Durante o período inicial dos estudos de computação gráfica houve uma transição regular – da arte tradicional para a digital – durante o avanço desse aprendizado mas que rápidamente se intensificou a medida que as tecnologias de hardware e software aumentavam sua performance.
Mas ainda, no início, a produção de arte digital usava o conceito de combinação de técnicas pois após feito o desenho tradicional ele era escaneado através dos imprecisos escâneres de mão para que em seguida a imagem resultante fosse colorizada digitalmente.
Era essa a prática comum de transferência de um desenho tradicional para dentro do computador para que logo em seguida pudesse iniciar-se o acabamento digital.
Porém, Imaginar a possibilidade de desenhar e fazer acabamento direto na tela do computador era algo impensável ou um sonho distante em comparação ao que é feito hoje.
Olha que legal, nos anos noventa a MTV estreou no Brasil trazendo toneladas de aberturas e vinhetas incríveis, muitas animações em diversos estilos como o stop motion e nas mais diversas estéticas visuais que extrapolavam o convencional.
A mistura de técnicas ou uso de recursos não tradicionais permeavam a programação daquele canal e aumentava minha certeza de que não existe técnica específica para acabamentos ou representações mas sim aquela que o artista se sente mais confortável em utilizar.
Acredito que a técnica artística utilizada para acabamento não é mais importante do que o conhecimento das técnicas de desenho que, por sua vez, serão as facilitadoras para aprender novas técnicas de arte e representação.
Senão vejamos, quanto mais entendimento e prática tivermos com proporção, perspectiva, luz e sombra entre outros – e não estou falando sobre precisão ou firmeza nos traços – muito mais segurança teremos para dedicarmos o tempo no aprendizado de técnicas de acabamento sejam elas na pintura, colagem, escultura, bordado ou digital.
O conhecimento sobre desenhar nos faz enxergar equilíbrio visual e harmonia das formas e nos permite aprender e usar as técnicas de acabamentos como complemento visual para ser aplicado sobre a base desenhada de nossos projetos.
Talvez o programador lá entre os anos setenta e oitenta tenha se aventurado em um programa primitivo que converteu a imagem original em outra que utilizou letras correspondentes aos pixels da imagem escaneada para criar uma técnica digital alternativa de acabamento.
Interessante, aquele foi meu primeiro contato com uma arte digital impressa.
Essas abordagens que geram aspectos visuais únicos e fora do convencional exemplificam que brincar com a criatividade pode ser eliminar qualquer censura no pensamento para deixa-lo fluir livremente permitindo assim ocorrer a combinação de possibilidades que poderão resultar em um novo ponto de vista ou conceito.
Tenha sempre em mente que ao aprender a desenhar aumentamos nossas possibilidades criativas.
Obrigado por chegar até aqui na leitura, comece logo a desenhar e Sucesso para você!!